quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Soneto III

Pela voz do Trovão Corisco intenso
Clama, que á Natureza impéra hum Ente,
Que cinge do áureo Dia o véo ridente,
Que véste d'atra Noite o manto denso.
Pasmar na Immensidade he crer o Immenso:
Tudo em nós o requer, o adora, o sente.
Próvão-te olhos, ouvidos, peito, e mente?
Numen! Eu oiço, eu olho, eu sinto, eu penso.
Tua Idéa, ó Grão Ser, ó Ser Divino,
Me he vida, se me dão mortal desmaio
Males que soffro, e males que imagino.
Nunca Impiedade em mim fez bruto ensaio:
Sempre (até das Paixões no desatino)
Tua Clemencia amei, temi teu Raio.

[M. M. B. Du Bocage]