É de madrugada e em meu quarto ouço vozes...
Pelas frestas da janela escuto sons a propagar, logo percebo que são garotos na rua a conversar. Talvez, por este motivo não consigo entoar uma canção para meu descansar.
Percebo que acabo de subir em um ringue. Travo minha luta solitária na tentativa de me acalmar, busco entre o travesseiro o aconchego para sonhar, mas hoje, sinto algo diferente. Ansioso, sinto-me impedido de repousar, logo encontro em meu celular uma caverna para me abrigar, homo zapiens¹ da era cibernética que sou.
Nesta caverna entro no mundo virtual das mensagens eletrônicas, nela procuro o que esta a incomodar, e em um instante de devaneio, exclamo...
Justo eu! Mas pareço uma pedra ao deitar, sarcástica monotonia, a pedra em seu privilégio de repousar ao luar, obra que nenhum Picasso é capaz de pintar.
Não demoro muito para perceber que nada há em que a tecnologia possa ajudar. Algo persiste em me incomodar e o sentimento de angustia me toma, pois volto à realidade, ainda ouço as vozes dos garotos a conversar. Mas o que será? Persisto em questionar...
Logo hoje que o cansaço está a martirizar, martírio de glória por uma corrida finalizar, mas alguma coisa, ainda insiste em incomodar.
De assalto, sinto uma lágrima rolar, lágrima que decide no travesseiro se acomodar e percebo que no secreto acabo de entrar...
Não mais em uma caverna, mas no colorido do reino, sinto o altíssimo me acariciar e como um menino me ponho à conversar, com doçura de criança quando tem seu par para brincar.
Mesmo solitário em meu quarto sons continuam ecoar, mas agora não são os garotos a falar.
Em um minuto sou transportado, ouço Ele pelo quarto caminhar e de braços abertos a me olhar. Em um instante sinto também que minha amiga, Sarayu², com sua felicidade veio me encontrar.
Ainda de olhos fechados titubeio, penso... talvez à loucura veio em minha mente se assentar?
Mas ao abrir os olhos percebo meu pensamento elucidar e vejo não com os olhos do homem, mas com os olhos sapiens.
E observo que esta noite meus amigos, vieram-me visitar. Com saudades as lágrimas persistem em rolar, e neste instante vai o incomodar e se aconchega o alegrar.
Neste entusiasmo vejo, Ele, o messias com seus braços abertos se achegar, e com um lenço me tocar para com doçura minhas lagrimas enxugar.
Diante de tais gestos de cuidar, tomo uma decisão. Levanto, e em um papel registro este segredo, o secreto que me faz apaziguar, e em sentimentos utópicos põe-me novamente acreditar.
Acreditar no amar! Amar de amigos que nesta noite vieram-me por para deitar.
Muitos os chamam de Onipotente, mesmo porque em um temos três e três está em um, mas mesmo com a loucura da trindade a assolar prefiro ficar com o meu amigo ou amigos, sei lá... E na beleza desta visita deleitar.
E neste momento impossível de explicar, ressurge a chama de sonhar juntamente com o dia clarear.
Bom dia!
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¹ PELEVIN, Viktor – Homo Zapiens
² YOUNG, P. William – A Cabana
Gostei dessa inércia viagem....bom momento, boas palavras....tamo junto ...abraçø
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